Está sentado? Se não, é melhor se sentar. Veja só essa sequência de números e vamos para a análise. Os dados são da consultoria internacional Nielsen, que estuda o mercado de consumo mundial. O Brasil tem aproximadamente 10 milhões de pessoas que se consideram influenciadores digitais. Ou seja, se posicionam diante da vida como sendo alguém que vai influenciar outras pessoas, digamos, que será um criador de conteúdo. É o segundo lugar no ranking entre países, perde apenas para os EUA (13,5 milhões de influenciadores).
Sendo assim, no Brasil, temos mais criadores de conteúdos digitais que somados todos os dentistas, médicos e advogados (considerando os registros em conselhos e ordens) do País. Um detalhe pesa para se ter esse honroso título, basta dizer que é, ter um celular e tempo livre para gravar.
O bebê reborn (aquele boneco hiper-realista que virou febre em algumas bolhas digitais) e a influenciadora Virgínia Fonseca foram, nas últimas duas semanas, o centro nervoso do debate nacional. O País parou, concentrou e se envolveu de corpo e alma (com o grande público de olhos vidrados no circo, comendo pipoca e esperando detalhes do próximo post). Ela na CPI das Bets ou na separação com seu marido, filho do cantor Leonardo, dominou as conversas de milhões de brasileiros. Um assunto efêmero, com zero impacto concreto na vida da maioria.
Entre os infinitos posts repercutindo essas duas novelas, algo tentava respirar: um tal de IOF. Poucas curtidas e comentários. Algo seco e frio. Escassas imagens de quando o governo impõe um novo peso ao bolso da população, quase despercebido – mas se vê o vulto que uma câmera de distribuidora filmou.
Haddad sendo Haddad. Grita ele: “é para os taxar ricos”. Hummmm, sei. Com a taxinha extra, as operações financeiras (IOF) devem tirar de quem produz (trabalhadores e empresários) mais de R$ 20 bilhões, direto e prático, das operações de cartão de crédito, câmbio, plano VGBL e envio de dinheiro ao exterior (até os ‘famosos’ cartões de viagem entraram na roda).
A narrativa reborn do governo traz o discurso modinha: “vamos taxar os ricos”. O governo pensa que toda dose de maldade tributária agora vai passar se ele falar que está vingando a sociedade esfaqueando ricos e empresários.
É a polarização tributária. Só que não. Todo mundo tem cartão e eleva o custo e risco de empréstimo no geral, principalmente para quem já está vetado no mercado de crédito, como as médias e pequenas empresas. A grande vai no BNDES, se livra em parte. A pequena, se ajoelha no gerente virtual do BB, Caixa, Itáu… e leva um “nãoooo”. Se quer taxar “rico” e “vingar” a sociedade, o governo precisa cortar na carne, porque no Brasil só vai sobrar na classe AAA, juízes, congressistas e o alto escalão blindado do Poder Executivo (aqueles que o governo além pagar salários gordos, oferece cargos em conselhos de estatais com jetons generosos e nomeações simbólicas que aumentam os rendimentos). Haddad, fica a dica para as próximas facadas.
Leandro Resende – editor-chefe da Revista Leitura Estratégica
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