Saiu nesta sexta (19) o Produto Interno Bruto (PIB) das cidades brasileiras de 2023. Pelo volume de informações, o IBGE sempre o entrega com este intervalo de dois anos. Goiânia avançou três posições, chegando a R$ 75 bilhões – no ano anterior era R$ 66 bilhões.
No Centro-Oeste, quando se exclui o Distrito Federal – um ecossistema urbano moldado quase exclusivamente pela lógica estatal –, Goiânia é a maior cidade com perfil privado do Centro-Oeste. No nacional, Goiânia ocupa a 15ª posição entre os maiores PIBs das cidades. É a 10ª maior capital – cinco cidades do Rio e de São Paulo que não são capitais estão à frente de Goiânia. Contudo considero o resultado aquém do seu potencial histórico, econômico e urbano.
Imediatamente à frente, tem-se três cidades: Fortaleza, Salvador e Niterói, que estão em ritmo de expansão inferior ao de Goiânia. Se mantido o ritmo, serão em poucos ou alguns anos ultrapassadas, colocando a capital de Goiás na 12ª posição, chegando em uma faixa de cidades paulistas que estão crescendo no mesmo ritmo da capital goiana – Guarulhos e Campinas (10ª e 11ª, respectivamente).
Avaliando os dados isoladamente, são positivos, mas escondem uma realidade mais profunda: nas últimas décadas, Goiânia cresceu de forma irregular, oscilante, sem um projeto contínuo que traduza sua vocação e ambição como metrópole regional.
Cresce organicamente pela força da economia, mas não existe um projeto de longo prazo que direcione essa evolução por décadas. O ‘síndico’ e o ‘zelador’ (Executivo e Legislativo) vão conduzindo no rumo escolhido a cada mandato, sem seguir regimento interno definido pelos ‘proprietários’ da cidade.
Ausente e mudo, o cidadão não é dono, é usuário. O dono passa a ser o zelador e/ou o síndico. Em Goiânia, não existem (como já existiram no passado) grupos independentes apartidários ou representados por vários segmentos sociais, que, de fato e direito, validem e cobrem por uma cidade diferente da que está na cabeça do sujeito que a dirige. Sem juízo de valor, seja este de boa ou má-fé, a cidade é uma construção coletiva.
Esses ciclos muito distintos de gestão são um risco para a cidade. Se algumas administrações estruturaram a cidade e deixaram legados claros, outras são tímidas (para não dizer incompetentes), paroquiais e desprovidas de visão estratégica. O resultado é uma capital sem um plano central, refém de vontades episódicas e de mandatos curtos e direcionados para atender grupos de influência, como igrejas, setores empresariais e partidos – quando não, e é o que mais acontece, o interesse pessoal dos próprios mandatários nos dois Poderes.
Há também uma mea culpa necessária. O cidadão aceita, de forma silenciosa, a troca constante de modelos, sem questionar que cidade deseja. Quando não nos posicionamos, alguém decide por nós. Ou pior: decide o que quer que a gente queira.
O Centro da capital, por exemplo, já foi submetido a quase uma dezena de procedimentos, cada um diferente do outro, desde os anos 1990. Muito pouco sobrou ou ficou de um projeto para o outro. É um espaço com baixa identidade, assim como o restante da capital – onde falta personalidade e sobram camadas de ideias baratas e superficiais.
Esse exemplo do setor central reflete Goiânia como um todo: uma cidade sem personalidade, que de tanta plástica barata e procedimento tampão, logo vai parecer uma cidade artificial, velha e deformada – que, muitas vezes, se comporta como uma cidade menor do que é.
Goiânia precisa de uma agenda para os seus 100 anos.
Leandro Resende,
editor-chefe
Linkedin: leresende














