O planejamento tributário brasileiro entra em 2026 com uma mudança estrutural: não é mais possível planejar olhando apenas para o ano seguinte. A reforma tributária inaugura um período prolongado de incerteza, com regras ainda em construção, convivência de sistemas e um Fisco mais atento, tecnológico e ativo. Planejar ‘no escuro’ passa a ser a nova realidade – e ignorar isso será caro.
O erro mais comum das empresas, especialmente médias e as optantes do Simples, será manter a lógica antiga: decidir no fim do ano, enquadrar o regime e seguir. Esse modelo morreu. O novo ambiente exige planejamento contínuo, vigilância permanente e decisões integradas entre fiscal, financeiro, societário e comercial.
A transição para IBS e CBS começa formalmente, mas o sistema ainda não está plenamente regulamentado. Isso significa interpretações divergentes, ajustes ao longo do exercício e um risco fiscal que não aparece de imediato no DRE; no entanto, pode explodir no caixa mais adiante.
Nesse cenário, médias empresas e empresas do Simples Nacional tornam-se o foco natural do Fisco. São muitas, representam arrecadação relevante e, em geral, operam com menor estrutura de governança tributária e financeira.
Além disso, a reforma tende a reduzir vantagens automáticas do Simples em determinados setores, exigindo análise caso a caso. Permanecer no regime errado pode significar pagar mais imposto sem perceber.
O alerta já começa no fim do ano, com a questão dos dividendos, que vem gerando polêmica, dúvidas e reclamações. O debate sobre tributação futura, mudanças de regras e possíveis impactos retroativos cria um ambiente de insegurança jurídica. Decisões societárias tomadas agora, como distribuição, retenção ou reorganização, terão reflexos diretos nos próximos exercícios.
Não decidir também é uma decisão, e, muitas vezes, a pior delas.
Por isso, o planejamento tributário deixa de ser apenas ferramenta de economia fiscal e passa a ser gestão de risco. É preciso simular cenários, revisar contratos, analisar margens por produto e cliente, acompanhar regulamentações quase em tempo real e ajustar rapidamente rotas quando necessário.
O imposto deixa de ser detalhe contábil e passa a influenciar preço, competitividade e geração de caixa. É determinante compreender esse cenário. Empresas mais preparadas já estão tratando o tema como agenda estratégica de conselho. Criam rotinas de acompanhamento, integram fiscal e financeiro, e revisam decisões ao longo do ano. Não se trata de agressividade tributária, mas de previsibilidade e sobrevivência.
Em 2026, a pergunta central não será “qual regime paga menos imposto?”, mas sim: minha empresa está preparada para operar em um sistema incerto sem perder margem, caixa e competitividade? Quem ligar o radar agora atravessará a transição com mais segurança. Quem não ligar, será surpreendido – pelo custo e pelo Fisco. Não adianta reclamar depois se agora você está desconectado da nova realidade tributária do País.

Luiz Antônio de Siqueira, Advogado na LAS Advogados e contador.














