No mundo corporativo, muito se fala sobre a importância da governança. Conselhos independentes, diversidade de vozes e visão estratégica são, em tese, pilares que sustentam empresas mais sólidas e preparadas para os desafios do mercado. Porém, na prática, o que vemos muitas vezes é um teatro de governança: conselheiros que, em vez de pensar no longo prazo, atuam como lobistas disfarçados.
Não é raro encontrar profissionais que chegam ao conselho não pela sua capacidade de análise crítica, mas pelo acesso a portas privilegiadas: governos, bancos, fornecedores estratégicos, benefícios fiscais. Vendem-se como guardiões de governança, mas agem como corretores de favores. A questão é: quem, de fato, eles representam? A empresa ou os interesses que carregam consigo?
Essa lógica cria riscos profundos. Primeiro, porque distorce o papel do conselho, que deveria ser contrapeso à gestão e não extensão de pressões externas. Segundo, porque compromete a reputação da companhia. Uma empresa que se apoia em atalhos políticos pode até ganhar no curto prazo, mas se fragiliza no longo prazo. O mercado percebe, os investidores percebem, e a credibilidade, uma vez perdida, dificilmente se reconstrói.
É preciso separar influência de governança. Ter networking é saudável; depender dele como alicerce da empresa é perigoso. O verdadeiro conselheiro não abre portas em Brasília ou em um banco — ele abre caminhos para a estratégia, traz análise técnica, cobra execução e aponta riscos que o sócio, donos ou acionistas, por vezes, não querem ver. É alguém capaz de sustentar a verdade incômoda, não de prometer soluções fáceis por meio de relações pessoais.
Um conselho corporativo não pode ser vitrine de status ou balcão de negócios. Precisa ser espaço de pluralidade, debate e visão independente. É ali que se decide se a empresa será resiliente ou vulnerável, se vai crescer com base em fundamentos ou sobreviver de favores.
Governança de verdade não se compra em jantares ou gabinetes. Governança de verdade exige coragem de escolher conselheiros que pensem pela empresa — e não por si mesmos. Porque, no fim, conselheiro não é lobista de terno fino. É o guardião do futuro da organização.

Rondinely Leal,
executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.