Em períodos de crise ou instabilidade, surgem os “abutres corporativos”, oportunistas que se intitulam como consultores, tributaristas, fornecedores, instituições financeiras e vendedores de facilidades, que se aproximam não para fortalecer, mas para explorar vulnerabilidades e extrair vantagens próprias.
Consultores prometem soluções rápidas, mas criam diagnósticos alarmistas e uma dependência calculada para garantir que seus contratos nunca terminem. Tributaristas vendem “atalhos” sedutores, que parecem gerar economia imediata, mas expõem a empresa a riscos fiscais graves no médio prazo. Fornecedores, por sua vez, se beneficiam da desorganização, impondo contratos desequilibrados, aumentos silenciosos e soluções que geram dependência operacional.
Já as instituições financeiras, em nome de metas internas e crescimento da carteira, oferecem crédito sem compreender a realidade do negócio, sua sazonalidade ou capacidade de geração de caixa. O resultado são dívidas estruturadas em bases frágeis, que se tornam insustentáveis e levam a cortes abruptos de relacionamento e execução de garantias, sem qualquer compromisso com a continuidade da operação.
O problema não está no conhecimento ou na autoridade dessas figuras, mas no uso que fazem deles: como instrumentos de manipulação e controle, e não como ferramentas de parceria. Em vez de promover autonomia e resiliência, reforçam a dependência e comprometem a capacidade de reação da empresa.
Proteger-se exige mais do que atenção ao fluxo de caixa ou ao mercado. É necessário implementar filtros técnicos rigorosos na escolha de parceiros, adotar práticas sólidas de governança, analisar histórico e postura, e manter uma vigilância constante sobre a coerência entre discurso e entrega.
O conhecimento, quando dissociado da ética e da moral, transforma-se em passivo tóxico: mina a competitividade, enfraquece a liderança e compromete a sustentabilidade de longo prazo. Empresas sólidas se constroem com parceiros que compartilham riscos, celebram resultados e trabalham para fortalecer a operação – e não com predadores que se alimentam do caos. Identificar e afastar os “abutres de plantão” não é apenas prudência: é uma necessidade estratégica para a sobrevivência e longevidade no mundo corporativo.

Rondinely Leal,
executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.