Em um ambiente onde a valorização do conhecimento é praticamente uma religião, sugerir que “saber demais” pode ser um problema soa, à primeira vista, quase herético. No entanto, é justamente essa onipotência informacional, real ou presumida, que pode minar a colaboração, inibir a inovação e sufocar a autonomia das equipes. Em muitos contextos corporativos, líderes e gestores que tentam controlar cada detalhe, acreditando que precisam saber tudo, acabam centralizando decisões, criando gargalos e, pior, desestimulando talentos.
O excesso de conhecimento concentrado em poucas mãos alimenta uma cultura de dependência e medo de errar. Equipes deixam de testar hipóteses, de propor soluções alternativas ou de contradizer o “sabe-tudo” da sala. O resultado? Organizações que parecem eficientes, mas são estagnadas, pouco resilientes e extremamente vulneráveis à mudança. Saber muito não é o problema. O risco está em acreditar que isso basta.
No ambiente corporativo, é comum que os profissionais mais experientes se tornem referência. São eles que “sabem como as coisas funcionam”, conhecem os processos, já viram de tudo. Mas aqui mora o perigo: quanto mais se sabe sobre algo, maior a tendência de se confiar apenas no que já foi feito, de seguir os modelos estabelecidos e de rejeitar o novo por parecer “impraticável”.
O conhecimento técnico e histórico é essencial. Mas ele não pode virar muro. Nas equipes de alta performance, o que se valoriza não é apenas quem domina um assunto, mas quem questiona, propõe, erra rápido e aprende ainda mais rápido.
A inovação, porém, exige exatamente o oposto: liberdade para experimentar, tolerância ao erro e, acima de tudo, abertura ao desconhecido. Em muitas organizações, novas ideias morrem antes mesmo de ganharem forma, sufocadas por frases como “isso nunca funcionou aqui” ou “já tentamos e não deu certo”. Essa postura, embora amparada pela experiência, é fatal para a criatividade.
O conhecimento deve ser combustível, não freio. E, para inovar, talvez seja necessário desaprender um pouco. Afinal, no mundo dos negócios, a diferença entre liderar e ficar para trás pode estar justamente na capacidade de esquecer o que sempre foi verdade.

Rondinely Leal,
executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.