Por Rafael Mesquita
Nos últimos anos, o setor mineral brasileiro tem sido dominado por investimentos chineses, que ultrapassam os 3 bilhões de dólares. Com aquisições agressivas de projetos de minerais estratégicos, a China tem consolidado sua presença no Brasil, e Goiás se tornou um dos principais alvos desses recursos destinados à mineração.
O primeiro investimento significativo ocorreu em 2016, quando a gigante China Molybdenum Co. Ltda (CMOC), por meio de sua subsidiária CMOC Brasil, adquiriu ativos da Anglo American nos municípios de Catalão e Ouvidor (GO), além de Cubatão (SP), envolvendo uma quantia de US$ 1,5 bilhão. Esses ativos incluem minerais como nióbio e fosfato, essenciais para a indústria global.
Já em 18 de fevereiro deste ano, a MMG Singapore Resources Pte, subsidiária integral de uma das maiores organizações estatais de mineração da China (China Minmetals), anunciou a compra da totalidade dos ativos de níquel no Brasil da Anglo American, por US$ 500 milhões.

Barro Alto (GO) se destaca por ser a única mina de níquel do mundo a atender ao Padrão IRMA 75, um selo internacional que garante a mineração responsável. “A MMG não está apenas comprando ativos de ferroníquel; está assumindo um legado de mais de 40 anos de história e compromisso com o desenvolvimento sustentável das regiões em que atuamos”, afirmou Ana Sanches, presidente da Anglo American no Brasil.
O empreendimento contempla as minas e as plantas de processamento de ferroníquel dos municípios goianos de Barro Alto e Niquelândia, que juntas produziram 39.400 toneladas de níquel em 2024 e mais dois projetos em fase de desenvolvimento (exploração mineral): Morro Sem Boné, no Mato Grosso, e Jacaré, no Estado do Pará.
Para o especialista do setor, diretor de mineração da Expert Brasil e representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na área de mineração, Wilson Antônio Borges, explica que o Governo de Goiás realizou recentemente missões empresariais para a China justamente com o foco de atrair investimentos e promover negócios benéficos para ambas as partes. Além disso, Governo e empresas chinesas tiveram participação relevante na FICOMEX (Feira de Comércio Exterior do Brasil Central) realizada no ano passado em Goiânia. “Não seria surpresa se novos investimentos forem realizados nos próximos anos no Estado”, acredita. “Os chineses estão em todos os ramos que possuem conexão direta com a transição energética, principalmente o setor mineral”, acrescenta.
Potencial de Goiás no contexto global
Wilson também destaca o potencial mineral de Goiás, alinhado à estratégia chinesa de investir no setor primário, principalmente na mineração. “A transição energética é um dos maiores desafios climáticos, e os minerais estratégicos, como o níquel, são fundamentais para isso. A descarbonização só será viável com a mudança na matriz energética, e os minerais estratégicos são essenciais nesse processo”, explica o especialista.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e Distrito Federal, Luiz Antônio Vessani, considera que a presença chinesa reflete uma política industrial sólida da China. “Trata-se de um país que coordena de forma estratégica a exploração de recursos naturais para fortalecer suas próprias indústrias e tecnologia”, afirma.

Expansão dos investimentos no Brasil
Além de Goiás, os investimentos chineses no setor mineral se estendem a outras regiões do Brasil. Em novembro de 2024, a China Nonferrous Metal Mining adquiriu a Taboca, uma mineradora peruana que opera na mina de Pitinga, na Amazônia, por US$ 340 milhões. A mina é responsável pela produção de estanho, nióbio, tântalo e elementos de terras raras.
Em dezembro, dois outros grandes negócios movimentaram o setor mineral no país. A Baiyin Non Ferrous comprou a Vale Verde, em Craibas, Alagoas, por US$ 500 milhões, com foco na produção de cobre sulfetado. Já a Huaxin Cement adquiriu a Embu, uma das maiores pedreiras do Brasil, por 186 milhões de dólares, com o objetivo de extrair pedra britada e areia, materiais essenciais para a construção civil.
No entanto, Vessani acredita que a relação comercial do Brasil com a China poderia ser mais vantajosa para o país. “O Brasil não possui uma política industrial mineral definida, o que nos coloca como meros fornecedores de matéria-prima, enquanto a China agrega valor e domina as etapas mais lucrativas da cadeia produtiva. O desafio não é apenas lidar com a crescente presença chinesa, mas também reivindicar uma política industrial que permita ao Brasil não ser apenas exportador de insumos, mas participar de forma ativa e estratégica na cadeia global de valor”, conclui.
Outros investimentos chineses em Goiás
Mas não é só na mineração que a China está presente em Goiás. Além da CMOC, com a produção de nióbio e fosfato nos municípios de Catalão e Ouvidor que já anunciou aumento de suas atividades no Estado, e da MMG com as minas e plantas de processamento de ferroníquel em Barro Alto e Niquelândia, a invasão chinesa na economia goiana também está presente em diversos setores.
A gigante chinesa WeiChai Holding Group iniciou em dezembro do ano passado as operações em Itumbiara para produzir motores e máquinas agrícolas de alta performance. O município do sul do Estado ainda vai receber a Chint Power, empresa do país asiático grande fornecedora de sistemas de energia limpa.

A empresa líder na comercialização de veículos elétricos e consolidada na fabricação de tecnologia de energia solar, a BYD, tem o município de Anápolis no radar para a fabricação de placas de energia solar. “O momento é positivo de atração de empresas tecnológicas para Goiás. Eles já visitaram o Porto Seco da cidade e gostaram muito do que viram” , destacou o secretário da Indústria e Comércio do Estado, Joel Sant’Anna Braga.