A velocidade com que a tecnologia avança impressiona. Inteligência artificial, automação, integração de dados e ferramentas colaborativas já fazem parte do cotidiano de praticamente todas as empresas. Plataformas sofisticadas surgem todos os meses, processos são digitalizados e os investimentos em inovação se tornaram prioridade estratégica. Mas existe uma contradição cada vez mais evidente: a tecnologia evolui, enquanto a gestão permanece estagnada e, às vezes, até silenciosa.
Muitas organizações se dizem digitais, porque adotaram novos sistemas, mas continuam operando com práticas antigas. Automatizam tarefas, mas mantêm processos lentos, dependentes de aprovações excessivas. Criam dashboards e relatórios modernos, mas seguem tomando decisões baseadas em hierarquia, política interna ou opinião pessoal. A promessa de agilidade se perde quando a cultura continua presa ao passado.
O grande bloqueio não é tecnológico, é comportamental. Líderes falam de inovação, mas não aceitam contestação. Pedem autonomia, mas exigem controle absoluto. Incentivam ideias, mas punem erros. Essa incoerência cria o fenômeno das empresas “digitalizadas por fora, analógicas por dentro”. Ferramentas modernas são instaladas, porém operadas sob uma mentalidade ultrapassada.
Outro ponto crítico é a falta de preparo das pessoas. Programas e aplicativos avançados são implementados sem treinamento adequado. Processos são redesenhados sem que a equipe entenda o impacto. Dados são coletados, mas raramente usados para orientar decisões. A tecnologia está presente, mas não é incorporada ao comportamento diário. Ela vira um enfeite sofisticado, não um acelerador real de resultados.
Essa estagnação cobra um preço alto. Empresas perdem competitividade, atrasam entregas, desperdiçam tempo com retrabalho e afastam talentos. O colaborador enxerga o potencial do digital, mas encontra uma cultura que impede a aplicação prática. Surge a frustração: o sistema é novo, mas o jeito de trabalhar continua velho.
A verdade é que transformação digital não acontece quando se compra tecnologia, acontece quando se muda a forma de liderar. É preciso simplificar processos, eliminar burocracias, dar autonomia real e construir um ambiente onde dados, e não vaidades, orientem decisões. Sem isso, qualquer inovação será apenas teatral: bonita na apresentação, ineficaz na prática.
O futuro não pertence às empresas que têm mais ferramentas, mas às que têm coragem para repensar sua gestão. A pergunta central não é “qual tecnologia vamos adotar?”, e sim:
“estamos dispostos a mudar comportamentos, relações de poder e modelos de liderança para acelerar as ferramentas?”
Enquanto a resposta for não, a tecnologia continuará avançando e as empresas continuarão ficando para trás. A estagnação da gestão, mais do que a falta de inovação, é o verdadeiro inimigo da competitividade moderna.

Rondinely Leal,
executivo com 20 anos de experiência em gestão, com atuação em grupos nacionais e multinacionais. Contador por formação com especialização em análise e auditoria, MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Professor e consultor.














