Por Rafael Mesquita
O dia 15 de julho de 2016 marca a data em que o advogado Walmir Cunha, 46, decidiu transformar um momento triste e desfavorável em crescimento pessoal. Aquele instante em que a vida ganha um novo significado.
Era final de tarde, e ele já se preparava para ir embora, quando questionou a secretária do escritório se ainda havia alguma demanda. Foi quando ela disse que um presente fora entregue a ele e deixado no local por um motoboy. Pensando se tratar de uma caixa de vinho, presente que costuma receber de um cliente português, o advogado começou a abrir o objeto, mas viu fios e percebeu que se tratava de uma bomba. Avisou a secretária, que segurava o embrulho. Walmir voltou, pegou a caixa e, ao tentar arremessá-la para o outro lado da sala, a bomba explodiu. Com a explosão, ele perdeu três dedos da mão esquerda, sofreu diversas queimaduras pelo abdômen e uma fratura exposta na perna.
O atentado poderia ter dado outros rumos à vida de Walmir, mas ele decidiu que não seria assim. “Prefiro sempre agradecer pelo livramento. Não importam as adversidades, mas sim como você ressignifica os acontecimentos bons e ruins”, acredita. A partir daí, foram nove cirurgias em 60 dias e um ano de fisioterapia. “Podem ter me mutilado na carne, mas espiritualmente me considero um homem integral e não mudaram o que realmente sou. As dores orgânicas passam, não podemos nos tornar pessoas rancorosas”, emociona-se.
Os dois acusados foram presos meses após o crime. Eles foram condenados pelo poder judiciário a 11 anos e 9 meses de prisão. O motivo: uma atuação profissional de Walmir em uma ação judicial desfavorável a um dos réus. “Quando sofri o atentado, achava que não tinha inimigos nessa vida”, lembra. Ali, o advogado percebeu que não poderia controlar a ação de outras pessoas, mas apenas o sentimento próprio diante daquela situação. “Exerci minha capacidade de perdoar, caso contrário, iria deixar que aquele sentimento ruim fizesse parte do meu dia a dia”, afirma.
Durante o início do período de reabilitação, já deixava bem claro para a fisioterapeuta que gostaria de se reencontrar com uma velha paixão: as motos. Mesmo tendo perdido 70% da mão esquerda com o atentado, Walmir tinha certeza que voltaria a pilotar. Sonho que pouco tempo depois se tornaria realidade.
Paixão por motos
Cunha é apaixonado por motos desde os dez anos de idade. Era setembro de 1989 e Goiânia vivia a efervescência de receber o Mundial de Motovelocidade. Os maiores nomes do motociclismo mundial da época estavam na capital. Para acompanhá-los, um grande público lotava não só o autódromo como os principais pontos da cidade. Entre eles, a Praça Tamandaré. Foi justamente lá que Walmir, ao lado do pai, ouviu o barulho e a fumaça de motos que circulavam pelo local. Foi amor à primeira vista.

Precisava colocar em prática aquela paixão. Quando ainda bem jovem, aprendeu a andar de moto na fazenda dos pais no município de Porangatu, norte goiano. O irmão era o companheiro que se aventurava com ele em estradas de chão e rios da região.
Durante a faculdade de Direito e estudos em São Paulo, já na juventude, houve uma pausa no uso de veículos de duas rodas.
Prática retomada em 2006 com o retorno à cidade natal, Goiânia. Começou a comprar motos esportivas e até a participar de cursos de pilotagem. Cerca de dez anos depois já vinha fazendo longos trechos em estrada de chão quando o atentado o afastou do projeto. Pelo menos temporariamente.
O futuro ainda reservava muitas surpresas e, cerca de um ano e meio depois do ataque sofrido, conseguiu, mesmo com as limitações físicas, voltar ao universo das motos. Comprou uma big trail (motocicleta de grande porte projetada para viagens longas em terrenos acidentados) em São Paulo e decidiu trazê-la sozinho para a cidade natal. “Fiquei muito emocionado quando consegui entrar na rodovia dos Bandeirantes sentido Goiânia conduzindo uma moto. Era como se eu tivesse superando uma fase muito difícil pra mim. Veio tudo na memória”, recorda.
O segundo retorno ao mundo das motocicletas fez o advogado desenvolver projetos de viagens pelo Brasil e exterior. Ele se tornou um expedicionário do mototurismo e veículos 4×4. Dessa forma, já conheceu mais de 30 países nas Américas do Norte, Central e do Sul, Europa, Ásia e África. Com o projeto, um ressignificado que também passou a fazer parte da vida de Walmir: a fotografia.
Ele aproveita as viagens pelos vários países para retratar o mundo a partir das próprias experiências. “Percebi que muitas pessoas não teriam a oportunidade de ver as diferentes realidades que presencio. Vejo o mundo através da minha viseira. As minhas fotografias são como eu estivesse contando um pouco dessa história e fazendo com que as pessoas viajem na minha garupa”, acredita.
As fotos mostram a realidade cultural e sociológica em que a população local está inserida. Walmir já fez até cursos profissionais de fotografia e leva todo o aparato técnico necessário. “Nas minhas expedições sempre procuro coincidir com etapas da Fórmula 1 e Mundial de Moto GP, outras paixões”, pontua.
Moto GP em Goiânia
Em 2024, Walmir e um grupo de 17 motociclistas tiveram a decepção de não poder assistir a corrida de Moto GP na Argentina. O País vizinho havia cancelado o evento alegando dificuldades econômicas. O advogado logo percebeu que, a partir dali, haveria um grande risco da América do Sul ficar de fora do calendário.
Daí, surgiu a ideia: por que não trazer a principal categoria do motociclismo mundial para Goiânia, como aconteceu nos anos 1980? Primeiro Walmir conversou com a direção do Autódromo e da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM). Redigiu uma carta da candidatura da capital para receber o evento e, com a ajuda de um amigo advogado espanhol, ele conseguiu apresentar o documento a representantes da Dorna Sports, empresa detentora dos direitos da Moto GP. A partir daí, começou a interlocução com o Governo do Estado.
“O governador Ronaldo Caiado nos deu a oportunidade de conversar com ele sobre a possibilidade de trazer o evento. Ele entendeu o projeto e nos apoiou. Elogio a celeridade e eficiência dos secretários e equipe do governo”, afirma.
A assinatura oficial do acordo ocorreu em dezembro do ano passado. A prova irá acontecer em março de 2026. O advogado avalia que Goiás entrará na rota do turismo internacional, gerando empregos diretos e indiretos. Além disso, acredita que o Grande Prêmio vai colocar Goiânia no caminho dos principais eventos internacionais. “Fiz tudo isso por amor ao motociclismo e por amor a Goiás, ao nosso Estado, sou goiano e não escondo meu sentimento de ter nascido nesta terra”, orgulha-se.
Advogado com destaque internacional
Walmir Cunha tem um perfil profissional muito reservado. Prefere realizar os objetivos sem grandes alardes. Dessa maneira, tem conquistado importantes vitórias na atuação jurídica. Com um escritório iniciado em Goiânia em 2006, já possui unidades em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O escritório Walmir Cunha e Advogados Associados atende a nove Estados, além de Estados Unidos e países da Europa. “Estamos em crescente processo de internacionalização, com projeto promissor envolvendo Ásia e Oriente Médio. Também vamos expandir as ações com a abertura de escritório em Madri, na Espanha”, diz.

A atuação no Direito Agrário tem ligação direta com sua família. “Meu pai e minha mãe sempre foram empresários do agro. Eu herdei a paixão pela terra e o consequente interesse em atuar nessa área profissional”, explica. Também trabalha com Direito Empresarial. No escritório, ainda é associado a advogados especialistas em Sucessão, Responsabilidade Civil e Imobiliário.
Tornar-se um advogado foi seguir uma intuição ainda na juventude que o transformou em uma pessoa mais feliz e realizada. “Sempre tive uma sensibilidade humanística e procurei estudar as questões sociais e os dramas da humanidade. Por isso, ainda jovem tive a intuição de que o Direito seria a minha área ideal de atuação profissional.”