Por Rafael Mesquita
Agir sempre com cautela e medir cada passo. Esse sempre foi o diferencial do empresário Élbio Moreira, 70 anos. Ele é o grande responsável por fazer da Construtora EBM, líder do mercado imobiliário do Centro-Oeste e referência nacional do setor, com 43 anos de história, mais de 180 empreendimentos entregues e três milhões de metros quadrados construídos. “Eu abomino a vaidade. Sempre observamos a viabilidade do empreendimento”, explica.
Evidentemente, existem outros segredos para o sucesso. “Sempre tivemos a capacidade de mobilidade para dar sobrevivência à empresa. Por isso, a EBM existe há tantos anos”, acredita. A expansão das atividades para São Paulo, nos anos 1990, reforça esse entendimento. “Quando a Encol (construtora goiana que chegou a ser a maior do País) quebrou, o mercado entrou em uma crise sem precedentes. Decidimos ir para São Paulo, o que foi decisivo para a empresa virar o que virou”, lembra. Na capital paulista, a EBM passou a ser ainda mais respeitada e a consolidar boas parcerias. “Começamos a pegar obras maiores, incorporadoras nos procuravam para fazermos negócios juntos”, recorda.
A chegada da EBM em Brasília também está relacionada à capacidade de mobilidade e aos “pés no chão” do empresário. Com a abertura de capital, na primeira década deste século, e a necessidade de prestar satisfação aos investidores, as construtoras de São Paulo iniciaram a comercialização de megaempreendimentos, o que dificultou os negócios da empresa goiana na capital paulista. “Não faríamos loucuras como o mercado estava fazendo. Ficou complicado para a gente lá. Daí, decidimos concentrar as atividades em Brasília”, afirma. O foco dos investimentos da empresa no Distrito Federal durou até um pouco antes da crise econômica de 2015. “Naquele momento, o setor sofreu o impacto e resolvemos reforçar os negócios em Goiânia”, diz.
Outro trunfo da empresa foi ser capaz de atender desde clientes de alto padrão até aqueles do Minha Casa, Minha Vida (programa de habitação do Governo Federal). São empreendimentos que garantem finaliza da construtora em todas as classes sociais. “Em Brasília, por exemplo, trabalhamos apenas com o programa de habitação do Governo Federal. Diferente de Goiânia, onde atuamos com o Minha Casa, Minha Vida, mas também com imóveis de médio e alto padrão”, explica.
A capacidade de mobilidade da EBM não é a realidade para grandes construtoras do eixo Rio-São Paulo no mercado goiano. No Estado, elas têm grande dificuldade de ascensão. Élbio Moreira tem a resposta para essa realidade. “A área de incorporação precisa do que chamamos de barriga no balcão. A expansão desse tipo de atividade é complicada. É preciso estar muito perto dela. Empresas de fora vieram, mas não se viabilizaram, porque se trata de uma atividade muito regional”, acredita.
Segundo o empresário, para as grandes empresas não compensa sair do eixo Rio-São Paulo, porque esses locais já são grandes mercados. “As que vieram não se deram bem financeiramente e não conseguiram competir no mercado goiano, que tem preços mais baixos e empresas concorrentes menores”, avalia.
O domínio do mercado regional faz da EBM uma referência para as novas construtoras goianas? “Tem que perguntar para elas, não para mim”, brinca. Élbio completa: “Eu tenho os meus exemplos no setor, como a Cyrela e a Cury (ambas paulistas). Pego o balanço, analiso e parabenizo como elas são empresas sólidas. Pessoalmente, eu gostaria que fôssemos uma inspiração para outros também, até porque muitos desses novos empreendedores já passaram por aqui”, diz.
Uma história especial com Goiânia
O amor pela cidade existe não só porque nasceu na capital de Goiás, mas também porque cresceu junto com ela. Élbio se recorda da infância no Centro de Goiânia, nos anos 1960, em uma época sem grandes empreendimentos verticais na cidade, algo impensável nos tempos atuais. “Jogávamos bete na rua, tínhamos liberdade, andávamos de bicicleta. Eu vi Goiânia crescer, só havia asfalto até a Praça Cívica”, recorda.
A meta de vida do pai era oferecer uma educação primorosa para os filhos. Servidor da Receita Federal, Bento Moreira, acreditava que o filho teria uma educação melhor indo estudar fora. Matriculou o adolescente no tradicional colégio Bandeirantes, em São Paulo. A concorrência com colegas de escola, principalmente descendentes de judeus e japoneses, fez o goiano Élbio aprimorar os estudos e logo passar para o curso de Engenharia Civil no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).



Chegou a trabalhar para uma empresa paulista, mas a oportunidade de retornar a Goiânia falou mais alto. Élbio recebeu o convite da Encol, que estava em pleno crescimento naquele período. Foram três anos de grande ascensão profissional, mas surgiu a vontade de empreender. Quis arriscar. Com a ajuda do pai e de um amigo da família, montou a Imobiliary Engenharia e Construções, embrião do que seria a EBM.
As primeiras obras foram de condomínios. “Naquela época, não existia muito financiamento com juros mais baixos para o mercado imobiliário. A gente construía para grupos de pessoas na cidade e ganhava a taxa de administração. Era o único jeito do pessoal comprar imóvel”, lembra.
A empresa cresceu, o amigo da família saiu da sociedade e então Élbio e o pai transformaram a empresa em EBM, em referência às letras iniciais dos proprietários. Anos depois, o engenheiro civil decidiu chamar o irmão, que também estava se formando no mesmo curso, para substituir o pai no negócio.
Juntos, Élbio e Bento Odilon Moreira Filho contribuíram para transformar a cidade.
A boa percepção do mercado imobiliário local foi importante para a conquista do sucesso. “Pegamos todo o ciclo de verticalização do Setor Oeste, desde quando se intensificou nos anos 80 e 90 até os dias atuais. Entendi que seria uma área importante para investirmos, já que naquela época a maioria das construtoras estava com obras no Setor Bueno”, explica.
Outra visão de mercado lançou tendência em Goiânia. “Há 15 anos, eu ia a Campinas (SP), via vários prédios comerciais e não entendia por que não havia isso na nossa capital. Essa situação me incomodava muito”, recorda. Élbio fez então uma pesquisa que constatou que os empresários e profissionais liberais não se interessavam por esse tipo de empreendimento devido a uma questão cultural.
A partir daí, a EBM lançou o Edifício Aton Business Style, na Praça do Sol, e mostrou aos clientes as vantagens relacionadas a estacionamento, segurança e comodidade. “Abriu-se um mercado. Depois disso, fizemos dez empreendimentos comerciais em Goiânia”, afirma. Nesse segmento, um carinho especial pelo Complexo Metropolitan, no Jardim Goiás, maior complexo imobiliário do Centro-Oeste. São quatro torres, sendo três já concluídas. O empreendimento começou a ser inaugurado em 2015 e transformou a cidade com o conceito de torres residenciais e comerciais no mesmo complexo.
O presidente da EBM, Élbio Moreira, ainda se recorda de alguns empreendimentos que levaram valorização para determinadas regiões da cidade. “Na época da nossa primeira obra no Parque Flamboyant, eu admitia para o cliente que o lugar era perigoso, mas dizia que havia expectativa de melhora e foi justamente o que aconteceu”, lembra. O Espaço EBM, na Avenida Ricardo Paranhos, no Setor Marista, foi outra obra que lançou tendência em Goiânia. “Abri o empreendimento e logo todas as construtoras foram para lá”, afirma.
Mas, quando questionado se fica orgulhoso ao passar por alguma região e perceber que contribuiu para o desenvolvimento dela, Élbio se diz exigente com as obras que faz. “Ao invés de me sentir orgulhoso, procuro as falhas para poder consertar”, afirma.
O porte do mercado imobiliário goianiense assusta até o experiente empresário. “É o terceiro maior do Brasil. O que justifica isso? Dinheiro do agronegócio? Cidade polo de serviços? Goiânia teve um crescimento desproporcional do setor nos últimos anos”, destaca.
Ele defende a verticalização da cidade. Segundo Élbio, o setor de construção civil apenas obedece a o que determina a Prefeitura através do Plano Diretor. “O espírito da lei é muito interessante. A verticalização é uma tendência mundial, a cidade fica mais compacta, é melhor, porque se precisa menos de carro. Então o poder público passa a investir em transporte coletivo”, avalia.

Presente e futuro
Atualmente, a EBM está dividida em três empresas: Incorporação (cuida do desenvolvimento e gestão de negócios imobiliários, como edificações residenciais, comerciais e condomínios horizontais de casas), Propriedades (foco na gestão de produtos comerciais para locação, como centros comerciais e shoppings centers, além de conjuntos corporativos) e Urbanismo (inclui loteamentos e bairros planejados, atuando do econômico ao alto padrão).
A EBM tem atuação em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Brasília, São Paulo, São Bernardo (SP), Campinas (SP), São Carlos (SP) e Araraquara (SP). A intenção para o futuro é fazer a empresa crescer e ainda existir por muitos anos. “Mantendo sempre a nossa filosofia, solidez e pé no chão, pretendemos crescer mais e nos perpetuar no mercado”, explica.
Élbio afirma que a tendência é que, ao longo dos anos, ele diminua o ritmo de trabalho por causa da idade. Ele conta com o apoio da família. Um dos filhos, Marcelo Moreira, já trabalha na EBM, na área comercial. “A minha esposa Silvana sempre me incentivou. A família tem que saber respeitar e apoiar. O trabalho é o maior exemplo para os filhos”, acredita.