Por Rafael Vaz
O agronegócio brasileiro sempre foi sinônimo de trabalho árduo, desafios diários e uma relação intensa com a terra. Mas, nos últimos anos, surgiu uma nova narrativa que une tradição e sofisticação: o agro encontra o luxo, a experiência e o estilo de vida. No centro dessa transformação estão empresários visionários que entendem que vender é muito mais do que oferecer produtos – é criar pertencimento, comunidade e experiência.
Entre eles está Rubens Inácio, fundador da TXC e da Texas Center, que vem transformando o mercado de moda country em referência nacional e redefinindo a forma como o consumidor rural se conecta com as marcas.
Rubens Inácio nasceu em Anápolis, cresceu no interior do Pará e retornou a Goiás, onde lidera empresas que se tornaram referência em todo o País. “Uma das coisas que eu sempre acabo me gabando de alguma forma é que eu não vivo numa bolha. Conheço o Brasil, conheço suas capitais, boa parte do interior, e acabei de fazer uma viagem ao Amapá. Isso me permite entender o País e, claro, o meu cliente”, afirma.
Essa vivência diversa, aliada a dois intercâmbios internacionais, moldou a sua visão de negócios e reforçou a mentalidade de venda, que considera essencial para quem deseja escalar um negócio. “Se você é bom nisso, você poderia estar dez vezes melhor se fosse vendedor. A minha estabilidade com vendas me deixou mais corajoso para enfrentar desafios. E comecei cedo. Esse começar cedo é vital: sucesso não é um patamar, é uma linha. Você se fere, erra, aprende e cria casca”, diz.
Entendendo o cliente e o mercado
A TXC surgiu em 2015 e rapidamente se expandiu pelo Brasil. Para Rubens, o segredo está em compreender profundamente o cliente: “Entender quem é o teu cliente na base é fundamental. Comecei a conviver com pessoas mais velhas desde cedo, e isso me deu gosto por coisas boas. Moda, qualidade, e um padrão de vida que eu já admirava e queria atingir.”
A conexão com o interior do País foi crucial. Em Redenção, no Pará, Rubens percebeu que muitos consumidores do agro estavam órfãos de marcas que falassem com eles. “Não havia franquias relevantes para esse público. Eles tinham poder de compra, mas não tinham onde consumir produtos que refletissem a sua identidade. A gente criou essa oportunidade e construiu pertencimento através de uma narrativa verdadeira: ‘produzindo para quem produz’.”
A experiência do cliente se tornou prioridade: a Texas Center, conhecida como “Disney do Agro”, é uma loja onde o atendimento leva até uma hora e meia, permitindo que cada visitante se sinta parte daquele universo. “O cliente constrói a marca junto conosco. Ele não percebe, mas é ele quem dá nome, identidade e força para o nosso negócio”, comenta Rubens, sobre a evolução da marca.
Rubens explica que o luxo no agro é diferente do luxo tradicional: discreto, integrado à tradição e voltado para clientes que valorizam qualidade sem ostentação. “Não se trata de exibicionismo. Aprendemos a atender clientes com ticket alto de forma que respeite sua tradição. E estar em Goiânia, capital do agro, foi uma vantagem estratégica. A localização, combinada com o relacionamento com o mundo sertanejo e o atendimento diferenciado, criou um cenário perfeito para crescer”, acredita.
Segundo Rubens, a inovação constante e o inconformismo do empreendedor são os motores do sucesso: “Vamos crescer 40% este ano porque, buscamos inovação no conforto e na adaptabilidade, e escutamos o cliente. Sem ouvir, você não constrói valor real. O agro é um universo cheio de oportunidades, e o cliente, a família e a fé são os pilares que nos conectam”, destaca.
Experiência do cliente
Para o empresário Arthur Parreira Gratão, a TXC representa mais do que moda. “Conheci a TXC desde a sua inauguração e a admirava. Cada vez mais me impressiono. Às vezes vou só para conversar, e acabo comprando. Gosto de comprar camisas da marca TXC. É uma marca que abraçou o agro, produzindo para quem produz, e isso é um exemplo de negócio para o Brasil”, explica.
Essa perspectiva reforça como a marca se tornou referência não apenas pelo produto, mas pelo vínculo criado com quem está no campo, com quem trabalha e vive o agro diariamente.




Agro de luxo pelo mundo
Além de transformar o mercado de moda country, o luxo no agro começa a se expandir para outros setores. O segmento de alimentos e bebidas, por exemplo, tem sido cada vez mais explorado por marcas de alto padrão, mostrando que o agro vai além da produção agrícola e pecuária tradicional. Algumas das grifes mais icônicas do mundo têm investido em experiências gastronômicas sofisticadas.
Gucci: A marca italiana inaugurou, em 2018, o restaurante Gucci Osteria em Florença, comandado pelo chef Massimo Bottura. Outras unidades estão em Los Angeles, nos Estados Unidos e em Tóquio, capital do Japão. O menu inclui chocolates artesanais e vinhos de uvas selecionadas, como Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon. Em 1938, a Gucci já havia criado ovos de Páscoa com chocolate amargo equatoriano.
Bulgari: Com a linha Bulgari Il Cioccolato, a marca de joias lançou chocolates artesanais sofisticados, produzidos no Japão, utilizando ingredientes premium como trufas italianas, açafrão, vinhos raros e frutas secas nobres.
Dolce & Gabbana: A grife italiana assinou massas, molhos de tomate e vinhos de alta qualidade, em parceria com produtores tradicionais da Itália. Também desenvolveu linhas de panettones e colomba para datas festivas.
Prada: A aquisição da confeitaria Marchesi 1824 permitiu que a Prada trouxesse sua expertise em gastronomia de luxo para o mercado de alimentos e bebidas. A marca inaugurou o Prada Café, com cardápio que vai de café da manhã a coquetéis noturnos, mantendo a tradição de doces artesanais italianos.
Armani: Em 1998, a marca entrou no ramo alimentício com a inauguração do Ristorante Paris, em Milão, na Itália. A casa tem uma estrela Michelin e foi reconhecida pelo guia por oito anos consecutivos. Depois, expandiu a sua atuação para cafeterias em grandes cidades como Milão, Tóquio, Dubai (Emirados Árabes Unidos) e Munique (Alemanha). O braço doce da marca, Armani/Dolci, oferece chocolates, biscoitos, geleias e chás em embalagens luxuosas, vendidos em butiques ao redor do mundo.
Além do luxo: “O agro é uma empresa a céu aberto”
Enquanto, para muitos, o agronegócio é sinônimo de luxo, experiência e consumo, Karla Monteiro Lamberti mostra outro lado do setor: dedicação, gestão estratégica e protagonismo feminino. Natural de Ponta Porã (MS) e atualmente estabelecida no interior de São Paulo, ela defende a importância da preparação e da liderança para mulheres que desejam se destacar no agro.
“Quando era pequena, pedia ao meu avô, pecuarista, para me levar na lida. Mas naquela época não era lugar de mulher. Eu chorava, queria ir para a lida. Meu avô via meu interesse, mas o lugar da mulher ‘não era no agro’. Aquilo foi uma dor muito grande”, conta.

Visão empresarial
Já como advogada, Karla começou a cuidar de alguns negócios do pai. “Ele uma vez me disse que me daria umas cabeças de gado e que eu deveria vender. Decidi ficar com essas 40 cabeças porque vi ali uma oportunidade de começar na fazenda. Foi onde tive a oportunidade de entrar de fato no agro e mudar a minha. Me tornei gestora e pecuarista”, relata.
Para ela, sem visão empresarial nada vai para frente. “O agro é uma empresa a céu aberto. É pesado: sol, chuva e estrume de vaca. Portanto, ter visão empresarial é fundamental. Para fortalecer o protagonismo das mulheres, é necessário planejamento, organização, visão empresarial e organizacional. Precisamos estar preparadas para o mercado interno e externo”, avalia.
Karla reforça ainda que, antigamente, o lugar da mulher era na cozinha do agro e não na gestão. “Não uso muito o termo protagonismo, porque os maridos ficam feridos. Troquei por colaboração: juntos somos mais fortes, cada um usando seu potencial. Não é sobre competição, é sobre colaboração. O futuro da mulher no agro é para aquelas preparadas, com conhecimentos, habilidades e competências. Como uma mulher de negócios, precisamos estar preparadas”, acredita.
Os dois olhares
Rubens Inácio, Arthur Parreira Gratão e Karla Monteiro Lamberti mostram diferentes faces do agro brasileiro. De um lado, o luxo, a moda e a experiência, que atraem consumidores e criam comunidades; do outro, a gestão, o trabalho duro e a liderança, que garantem sustentabilidade e futuro ao setor.
Enquanto o agro-luxo encanta e conecta, a gestão eficiente transforma oportunidades em resultados concretos. Juntas, essas histórias revelam que o agronegócio no Brasil é terra de tradição e palco de inovação, com espaço para quem produz, lidera e faz do campo um negócio completo e de valor.