Por Rafael Vaz
A advogada empresarial e professora universitária Maria Helena Corceli, de 28 anos, respirou fundo. Olhou para o céu, sentiu o vento no rosto e se lançou no vazio. Pela primeira vez, saltou de paraquedas. O coração disparado, o medo pulsando, mas a sensação de liberdade a invadia. “O salto foi a representação da minha coragem. Quando vi outras pessoas saltando com sorriso no rosto, me contagiou”, lembra ela. Para a advogada, aquele momento era muito mais do que um esporte radical: era um marco de superação, uma pausa em meio a uma vida profissional intensa e extenuante.
A rotina de Maria Helena era desgastante. Das 8 às 18 horas, estava no escritório; até às 22 horas, dava aulas na universidade. Entre jornadas intermináveis, enfrentou perdas e crises de saúde graves: um aborto, dengue hemorrágica e dias na UTI. “Depois disso, per-cebi que precisava aproveitar melhor a vida e aquilo que minha profissão me permite usufruir”, conta. O paraquedismo, o parapente e outros esportes radicais que pratica agora são formas de aliviar a carga emocional, de se reconectar consigo mesma e de experimentar a coragem fora do ambiente corporativo.
“Sair da zona de compressão do ambiente de trabalho é bom. Advocacia, por si só, gera muito estresse e ansiedade. Nesses esportes e hobbies, consigo tirar essa carga. É algo que me alivia, e também vejo onde minha profissão me permite chegar”.
Maria Helena resume a sua mensagem para outros profissionais. “Se arrisque. Tente algo além da zona de conforto. Quando foi a última vez que você fez algo novo e desafiador?”.
O peso do excesso de trabalho
A história de Maria Helena não é isolada. Dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) mostram que 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com Síndrome de Burnout, um dos possíveis resultados da sobrecarga, excesso de jornadas e alta pressão profissional.
Diversas pesquisas mostram que hobbies e atividades fora do trabalho vão além do lazer: funcionam como ferramentas importantes para a saúde mental. Um artigo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health mostra que profissionais que trabalham longas horas e têm hobbies apresentam mais benefícios psicológicos do que aqueles que não têm atividades fora do trabalho. Outro estudo, publicado na Nature Medicine, acompanhou cerca de 93 mil pessoas acima de 65 anos e constatou que os indivíduos com hobbies tinham menos sintomas de depressão e maior satisfação com a vida.
Yoga: respirar para viver e reconectar

Para o gerente bancário Carlos Eduardo Ramos Queiroz, 44 anos, a busca por equilíbrio começou pelo yoga. Após o luto pela perda da esposa, enfrentava noites de insônia e ansiedade. “A yoga ajuda na saúde mental. É o ponto mais importante. Minimiza a ansiedade, tranquiliza e permite tomar decisões mais acertadas no trabalho”, explica.
A instrutora de yoga Juliana Vieira reforça: “O corpo e a vida não foram feitos para viver no automático. É importante descansar, dormir, ter momentos de lazer, estar entre amigos, sentir emoções. Isso nos permite ir além e produzir mais. Viver apenas no trabalho prejudica o desempenho”.
“Se não desligamos, o corpo continua em modo alerta, gerando cansaço, estresse, ansiedade e até insônia. A yoga nos ensina a educar corpo e mente a estarem relaxados, para quando necessário”, observa Juliana Vieira.
A instrutora também alerta que dores, irritação, insônia ou cansaço persistente são sinais do corpo que muitas vezes ignoramos. A yoga permite perceber esses sinais, recarregar energia e até aumentar a criatividade e a clareza mental no dia seguinte.

Golfe: foco, paciência e conexão
Para o Emílio Rubatto, gerente do Sicoob, o golfe entrou em sua vida de forma inesperada: um patrocínio do banco em uma competição. Após uma aula experimental, descobriu mais do que um esporte: encontrou concentração, paciência, resiliência e relaxamento total.
“O golfe entra na parte de benefícios físicos e saúde mental. Contato com a natureza, desconexão da realidade, equilíbrio emocional. É algo que me dá 100% de relaxamento”.
Emílio destaca ainda a dimensão social e estratégica do esporte:
“É um ambiente favorável para negócios. Construí confiança, fiz clientes de forma orgânica. Em cada tacada aprendemos mais.”

José Marcos, coach de golfe, complementa: “atividades fora do trabalho oferecem o que falta na rotina profissional: detox social e mental. Melhoram produtividade, concentração e autocontrole. Muitas pessoas que conheço passaram a trabalhar após às 10h porque têm compromisso com o golfe. É um esporte que cria amizades sólidas e ensina a se reinventar no dia a dia.”
O golfe, segundo eles, é mais que lazer: é um aliado para corpo, mente e relações interpessoais, exigindo disciplina, planejamento e respeito ao próprio ritmo.
O fio que conecta todas as experiências
Apesar de diferentes, yoga, golfe e esportes radicais compartilham algo em comum: equilíbrio, autoconsciência, foco e bem-estar emocional. Cada prática ajuda a desconectar da pressão do trabalho, cultivar atenção plena e viver com mais presença.
Maria Helena, Carlos Eduardo, Emílio e Juliana mostram que não é necessário esperar férias longas ou grandes viagens para encontrar esse equilíbrio. Pequenas pausas, hobbies desafiadores ou esportes estratégicos são formas de cuidar da mente e do corpo diariamente.
“Se arrisque, tente algo além da zona de conforto. A vida não espera. O que fazemos fora do trabalho reflete em tudo: coragem, alegria e desempenho”, conclui Maria Helena Corceli.