Por Rafael Mesquita
A família Couto tem uma tradição de 57 anos atuando no varejo. Mais tempo do que a idade do presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Sirlei Couto, 49 anos. Quando o pai, Antônio Geraldo, começou com uma vendinha no povoado do Barreiro, no município de Goianésia, em 1968, ele nem havia nascido.
Antônio e a esposa, Maria Antônia, vieram de Minas Gerais. Primeiramente para trabalhar na agricultura com plantação de feijão. Só depois migraram para o comércio. A experiência na atividade empolgou o o casal, que decidiu ir para a cidade. Em Goianésia, montaram o Armazém Santo Antônio. Além de abrigar a atividade de sustento da família, o estabelecimento foi o local de moradia dos pais, de Sirlei e dos três irmãos.
De armazém, seu Antônio transformou o negócio em supermercado. Em 1982, nasceu o Supermercado Couto, considerado um grande varejista para a região naquela época. “Mesmo assim, ainda não tinha açougue e padaria, só hortifruti e secos e molhados”, lembra.
Não demorou para que o caçula, Sirlei Couto, auxiliasse seu Antônio e dona Maria Antônia no negócio da família. “Fui criado em um balcão, ajudando e atrapalhando meus pais”, brinca. Ele passou por todas as áreas de um supermercado. “Descarreguei mercadorias, vendia, cobrava de clientes, empacotava produtos. Depois, um pouco mais velho, fui ajudar na área financeira, indo aos bancos e fazendo os pagamentos “, recorda.
Os negócios da família foram se expandindo e, em 1993, o Supermercado Couto se transforma em Super Couto. “Agora sim, tínhamos um supermercado completo com padaria, açougue, hortifruti e secos e molhados”, explica. Além disso, o grupo passou a ter duas unidades em Goianésia, e o seu Antônio ainda adquiriu uma fazenda na região. A família precisou se dividir na gestão de cada empreendimento. “Coube a mim administrar a fazenda, onde atuávamos com confinamento de gado”, lembra Sirlei.
Antônio Geraldo pensava alto. Queria crescer mais. Sempre sonhou em ter uma unidade do Super Couto em uma capital, fosse Goiânia ou Brasília. A oportunidade surgiu em 2000, quando recebeu a proposta de adquirir um supermercado que estava à venda no Parque Amazônia, na capital goiana. “Nós, que somos do interior, temos uma ligação maior com Goiânia do que com Brasília. Acabei convencendo”, afirma.

Divisor de águas
Aos 24 anos, Sirlei se mudou sozinho para a capital com o objetivo de administrar a nova unidade do Super Couto. Na época, ainda era solteiro, nunca havia morado fora de Goianésia e decidiu encarar o desafio. Trouxe para Goiânia alguns funcionários de confiança que estavam com a família há algum tempo e contratou outros na capital.
Mesmo com o ótimo início dos negócios na cidade, o começo para Sirlei foi bastante complicado. “Nos primeiros seis meses, sofri muito, sentia falta de Goianésia e da família. Depois me acostumei. Me adaptei tão bem que não tenho vontade de voltar mais”, destaca.
O empreendimento no Parque Amazônia conseguiu manter a clientela do antigo supermercado que havia no mesmo local. O sucesso foi tanto que, anos depois. Sirlei percebeu a viabilidade de abrir outra unidade. Dessa vez, o Super Couto chegaria ao Jardim Nova Era, em Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital.
Em 2018, o grupo familiar se dividiu entre os quatro irmãos. Os supermercados em Goiânia e Aparecida de Goiânia, além do posto de combustível, também na cidade da região metropolitana, ficaram com Sirlei. Após a separação empresarial, ele ainda decidiu ampliar os investimentos em Aparecida com uma terceira unidade do Super Couto, no Conjunto Storil.
Sirlei ainda retomou uma antiga paixão: o campo. Voltou a ser pecuarista, em uma propriedade no município de Mutunópolis, região norte do Estado. “Eu gosto muito da vida na zona rural. Inclusive é algo que penso para o futuro, mas conciliando com a residência em Goiânia”, observa.



AGOS
O primeiro contato com a Associação Goiana de Supermercados (Agos) aconteceu ainda em 1997, quando morava em Goianésia. Na época, participava, com os membros da direção da entidade, de feiras do setor em todo o País. Quando se mudou para Goiânia em 2000, foi convidado a participar do dia a dia da Associação. “Ao longo dos 25 anos, já fui diretor, conselheiro, vice-presidente, até chegar à presidência em janeiro de 2023”, explica.
Antes de assumir o cargo máximo da Agos, Sirlei tentou relutar a nova função. “O Gilberto Soares que me antecedeu, e hoje é o nosso vice, sempre me pediu para ser o presidente, e eu acabei aceitando”, afirma.
Ao longo dos últimos três anos, tem viajado o mundo com o objetivo de conhecer feiras ligadas ao setor. Em janeiro de 2023, foi a Nova York no maior evento global do varejo, NRF- Retail’s Big Show. Ainda esteve com uma comitiva do governador Ronaldo Caiado em uma missão na China em novembro de 2023 e ao lado do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, em uma visita a Barcelona em novembro deste ano para uma feira voltada a cidades inteligentes. “Buscamos conhecer novos equipamentos, empresas de renome, interagir com o varejo internacional e estreitar o relacionamento com o poder público”, garante.
Além disso, a intenção é trazer ideias para a Superagos, a maior feira de supermercadistas do Centro-Oeste e uma das maiores do Brasil. O evento organizado pela entidade é realizado sempre em setembro, no Centro de Convenções de Goiânia, e já teve 22 edições. “Conseguimos trazer novidades como o uso de inteligência artificial, palestrantes de renome e treinamento de supermercadistas”, destaca. Sirlei ainda explica que a entidade realiza anualmente o Carrinho de Ouro. “É o Oscar dos supermercados goianos. O objetivo é premiar os melhores fornecedores e supermercadistas”, ressalta.
Neste mês de dezembro, Sirlei foi reeleito presidente da Agos para o próximo triênio. Representar com competência um setor tão importante para a sociedade é a missão. “A pandemia mostrou o quanto os supermercados são essenciais. As pessoas ficam sem comprar roupa, sapato, carro, mas sem alimento não”, observa.
O presidente da Associação ainda lembra que os supermercados são um bom termômetro da economia nacional, já que atingem todas as classes sociais. Os números são impressionantes e o objetivo, segundo ele, é ampliá-los. “No Brasil, representamos 9,5% do PIB e, em Goiás, cerca de 13%. Temos em torno de 100 mil colaboradores no Estado. Por dia, entram nos supermercados, em Goiás, um milhão de pessoas. Temos um faturamento anual de 52 bilhões de reais”, destaca.



Família, negócios e inspiração
Os pais Antônio Geraldo e Maria Antônia têm 81 e 79 anos de idade, respectivamente. Ainda moram em Goianésia. Mesmo não atuando mais como supermercadista, o pai não se aposentou totalmente. Ainda é pecuarista em uma propriedade em Porangatu, no norte goiano. Seu Antônio tem uma vida independente, dirige e gosta de resolver os próprios problemas, sem depender de ninguém. “Pela vontade dele e da minha mãe, eles voltariam a abrir um supermercado. Sentem falta. Os filhos é que não deixam”, brinca.
Antônio Geraldo sempre foi uma grande inspiração para Sirlei, por causa da experiência: “Ele viu de tudo na economia do País: épocas de hiperinflação, falta de produtos, ausência de opções de mercadorias”, Antônio também o inspirou pelo caráter: “Um homem íntegro, honesto, simples e trabalhador com qualidades que busco ter como referência”, emociona-se.
Casado há 19 anos com Cláudia de Paula Couto, Sirlei busca seguir o caminho que aprendeu com os pais. A esposa atua na área financeira das empresas. Os filhos, Caio de Paula Couto, 15, e Sofia de Paula Couto, 17, ainda são estudantes. Cursando o segundo ano do ensino médio, a filha já passou em três vestibulares: Direito, Medicina e Administração. Ainda vai concluir o terceiro ano para voltar a fazer vestibular e decidir qual curso seguir.
Teremos a continuidade de uma empresa familiar de sucesso? A resposta é do pai, Sirlei: “A gente dá a direção e respeita as escolhas. Mas um negócio que já dá certo é mais fácil de continuar do que começar do zero. Por mim, meus filhos vêm com a gente continuar essa história de 57 anos da família Couto”, emociona-se.














