Fui convidado para participar do maior evento de criatividade e propaganda da Ásia, em Pequim.
Voltei de lá com uma certeza incômoda: o marketing perdeu um pouco o fio.
Entre painéis sobre dados, IA e “criatividade exponencial”, a conversa orbitava a mesma ansiedade: a pressa.
E faz sentido: estamos em 2025, temos acesso inédito a tudo que já se estudou sobre comportamento humano, mas nunca fomos tão imediatistas na hora de agir.
No fundo, todo mundo sabe o que constrói marcas fortes: clareza, consistência, propósito. Mas por que ainda insistimos em medir o mundo em cliques e trimestres?
A teoria do branding evoluiu e segue evoluindo, a cada nova ferramenta, a cada novo slide de conferência.
Mas a prática… regrediu à reação.
O marketing aprendeu a se mover rápido, mas confundiu velocidade com direção.
Transformou a pressa em sinônimo de relevância.
Views viraram performance.
E o resultado está aí: campanhas que se esgotam em dias, marcas que se parecem todas iguais, e times inteiros operando no modo automático, repetindo fórmulas sem convicção.
Enquanto isso, profundidade virou luxo.
E o silêncio, um risco profissional.
A teoria continua dizendo: “Construa marca. Invista no longo prazo. Mantenha consistência emocional.”
Mas o cotidiano empurra o contrário: “Publique logo. Responda rápido. Siga a tendência.”
No fim, o que era estratégia virou sobrevivência.
As marcas estão cansadas, e os profissionais também.
Entre planilhas, prazos e posts, perdemos o espaço de pensar.
Talvez o problema não esteja nas ferramentas, mas no tempo psicológico.
Marcas precisam de tempo para criar significado assim como pessoas precisam de tempo para confiar.
Em algum ponto da era digital, decidimos que o tempo era um inimigo.
Mas a verdade é que a marca é o ritmo entre o curto e o longo prazo.
Ela vive no encontro entre o agora e o que permanece.
Não é sobre desacelerar, é sobre dar direção à velocidade.
As marcas que vão continuar de pé não serão as que correm mais rápido; serão as que sabem por que estão correndo.
E talvez esse seja o novo luxo do marketing: não falar primeiro, mas falar com sentido.

Ciro Ribeiro Rocha,
fundador da Enredo Brand Innovation.














