Rildo Lasmar prepara internacionalização

Ananda Petineli  

Com cerca de 30 anos de sua vida dedicados à Odontologia, Rildo Lasmar é um dos grandes nomes da profissão, reconhecido tanto em Goiás quanto em todo o Brasil. O que não é de tanto conhecimento público, mas foi revelado em detalhes numa entrevista exclusiva à Leitura Estratégica, é que o renomado odontólogo quase não seguiu a carreira, por estar bastante envolvido com outras atividades profissionais enquanto cursava a faculdade. 

Empreendedor nato, foi justamente essa característica sua que quase fez com que ele seguisse por outro caminho. O mineiro da pequena Bambuí, cidade que tem pouco mais de 20 mil habitantes, é filho de um libanês com uma brasileira.

Desde criança, conviveu de perto com dentistas destacados e elogiados. Apenas na sua rua, moravam cinco desses profissionais, o que despertou em Lasmar a admiração pela profissão. Contudo, o comércio também era presença constante, já que seus pais são comerciantes. 

Tendo mais de um foco profissional quando jovem, foi um período delicado da história do Brasil que fez com que ele se decidisse pela Odontologia. Ao longo dos anos, Lasmar viu que sua veia empreendedora não só podia ser conciliada com a profissão que exerce desde que se formou, como era um de seus grandes diferenciais, aliada à sua dedicação para as especializações que possui no ramo. Agora, o empresário se prepara para desbravar outros territórios e atingir novos públicos, como aborda na entrevista a seguir.

Como foi o início da sua vida profissional? 

Rildo Lasmar: Meus pais não tinham uma boa condição financeira, então, com 15 anos, eu comecei a vender roupas para meus colegas de sala na escola. Depois, peguei um espaço da garagem do meu pai para montar uma lojinha de roupas e sapatos chamada Pique Butique, que existe até hoje. 

Você como empresário de roupas era bom?

RL: Muito. Eu viajava de ônibus até o Rio de Janeiro para ver o que ia chegar de novidade. Quando as coleções de roupas iam ser lançadas, eu já estava ali em frente à passarela para fazer o pedido às marcas.

Mas, Odontologia era uma paixão maior?

RL: Sim, me espelhei na Odontologia porque os dentistas da minha cidade eram profissionais respeitados e isso formou a minha visão de sucesso. Mas a minha cidade é muito pequena e as pessoas costumam se mudar para ter mais chances de emprego. Saí de lá quando terminei o ensino básico e fui para Belo Horizonte, onde fiquei dois anos no cursinho até que passei no vestibular para Odontologia, na Universidade de Uberaba (Uniube). Eu me formei na faculdade em 1996, porque o curso noturno era de cinco anos. 

Eu fazia o curso à noite e trabalhava de dia. Continuava comprando e vendendo roupas, mas também fui vendedor de consórcios do grupo ABC Algar, que tinha negócios de carros e telecomunicações. Eu sempre batia as metas e os recordes de vendas, era o melhor vendedor do grupo. Isso me fez ganhar um dinheirinho e eu montei uma loja de carros, que se chamava Boas Mãos. Eu vendia bem lá, porque era muito atento ao mercado e conseguia fazer uma leitura do perfil de quem vendia e de quem comprava. 

Só que veio o Plano Collor, que travou tudo no Brasil e as pessoas ficaram sem dinheiro. O mercado de automóveis sofreu muito. Nessa época, estava quase me formando e decidi concluir a faculdade porque a Odontologia é uma profissão muito bonita e também garantia o futuro. Foi assim que eu parei de ser vendedor de carros e vendi a loja para um sócio meu. A Odontologia é uma coisa que eu gosto muito, mas acho que, se não tivesse acontecido isso com o comércio, eu teria parado com a faculdade. 

Quando me formei, tive a oportunidade de ir para Belo Horizonte ou Goiânia. Eu não conhecia Goiânia, mas gostava do nome da cidade e tinha referências dela como uma cidade nova, então sabia que cresceria bastante. No dia seguinte ao que eu cheguei, arrumei dois empregos de uma vez: um na Clínica Santa Tereza e outro na Clínica Santa Marta. Mas eu fiquei só três meses como funcionário. Eu vendi meu carro para montar uma clínica na Rua do Lazer, no Centro, pois vi que conseguia tocar a clínica e tinha sangue de empreendedor. Isso foi em 1997.

Acontece que, na época, só existiam clínicas odontológicas e quis me diferenciar colocando o nome de centro odontológico. Eu não tinha pacientes, mas pegava os classificados do jornal, assim como eu fazia na época em que trabalhei com carros, e ligava para as pessoas que anunciavam. Oferecia o meu trabalho em troca do que eles estavam vendendo e dava certo. Assim, eu fui aumentando a minha clientela. 

Trabalhava todos os dias na Rua do Lazer, mas, menos de um ano depois, eu concentrei os pacientes dali em três dias de atendimento na semana e montei outro consultório, no Urias Magalhães, ainda bem simples na época, para atender mais pessoas. Ainda tenho a clínica, mas mudei o nome para Instituto Brasileiro de Odontologia. Também comecei consultórios no São Judas, no Guanabara e no Norte Ferroviário. Depois, montei uma farmácia que se chama Pharma Oeste, no Setor Oeste, que existe até hoje, mas vendi. Sempre gostei de empreender, produzir e fazer as coisas acontecerem.

Uma veia empreendedora mesmo, né?

RL: Sim. Além da farmácia, montei uma confecção de roupas, que vendi depois também. E sempre fui assim, sempre quis trabalhar muito. Nessa época, a minha irmã veio de Belo Horizonte para cá e nós dois montamos uma distribuidora de cosméticos. Depois, ampliamos com mais dois sócios e, mais tarde, eu comprei a parte dela e dos sócios. Hoje, virou uma indústria, que se chama La Scala. Agora, estamos começando também o Las Farma. 

Você nunca parou com os negócios? 

RL: Nunca parei, porque eu acredito que a gente tem de produzir não para nós, mas para servir. Eu tento ajudar todas as pessoas que eu encontro, pois sempre tive vontade de poder resolver problemas. Por exemplo, uma paciente chegou aqui recentemente e o marido dela não quis sentar na cadeira. Percebi que ele estava com problema na coluna e quis ajudar, então já indiquei um médico para ele. Então, poder servir é muito importante. Aliás, eu acho que todo comerciante deve ser assim, porque, se pensar só para ele, não prospera. Se você não der, não recebe. E, nessa ajuda, a gente é ajudado ao mesmo tempo, pois é recíproco.

Hoje, o seu nome é reconhecido Brasil afora. Como você construiu esse caminho?

RL: Quando você faz o seu máximo, a pessoa percebe, continua com os seus serviços e te indica de maneira natural. Todas as profissões são assim. Então, se você se dedica e a pessoa vê isso, ela sempre vai confiar em você. Algo que vejo em mim é que sou dedicado às coisas que faço. Eu sempre demonstrei que estava me entregando ao máximo em qualquer tratamento para os pacientes. Inclusive, sou eu mesmo que falo diretamente com os pacientes pelo telefone e que respondo as mensagens no Instagram, por exemplo. 

Você trabalha com várias marcas de vários setores. Mas quando você decidiu fazer um consultório que tivesse uma marca com o seu nome?

RL: Eu tenho muita confiança no meu trabalho. Entendi que, quando você tem o seu nome em jogo, tem uma dedicação maior porque o seu nome te faz trabalhar com mais força. Eu vejo que o meu nome é responsável e é um nome em que as pessoas podem confiar, por isso decidi colocar como a marca. 

Já era uma estratégia sua? Isso começou onde e quando?

RL: Começou quando eu tive condição de ter uma clínica melhor. Eu tinha um consultório ali na Rua 134 e, depois que eu comprei o espaço físico para montar a clínica, coloquei o nome de Instituto Rildo Lasmar, sempre com a intenção de poder ensinar também. Esse foi no Setor Oeste e deve ter uns 20 anos. Nessa época, minha esposa, Bel [com quem se casou em 1999], era fisioterapeuta. Mas, como sou comerciante, sabia que ela poderia crescer mais. 

Então, antes de comprar a minha própria clínica, eu montei uma lojinha de joias para ela do lado da clínica que eu alugava. Depois dessa lojinha, também abri uma loja de roupas para ela. Estava indo muito bem, só que, perto de um Natal, assaltaram a loja e levaram tudo. Aquilo foi traumatizante, porque não tínhamos seguro e foi justo na época em que mais iríamos vender. Demorou um tempo para eu me restabelecer emocionalmente daquilo, porque não era pelo dinheiro, mas pela fragilidade das pessoas e da situação. 

Nesse momento, eu tive a oportunidade de comprar uma clínica médica perto de onde eu morava, no Setor Oeste. Foi quando eu comprei a clínica e a Bel saiu do trabalho de fisioterapeuta para atuar na área de estética que montamos nessa clínica. Era o Instituto Rildo Lasmar, junto com o Espaço Bel Lasmar de Estética. Eu lembro que alguns profissionais me questionaram, porque não existia uma clínica de estética junto com Odontologia. Mas eu decidi fazer isso porque era um público só. Isso foi muito bom e a gente têm esse espaço até hoje. 

Os pacientes circulam, então o meu paciente também procura a clínica dela, vai à nossa lojinha de cosméticos, faz um procedimento com outro profissional que trabalha com a gente e por aí vai. Isso não existia em outras clínicas, mas eu fiz essa união. Depois, eu vim para o Alphaville e tirei o Instituto do nome porque todo mundo que estava abrindo clínica nomeava como instituto. Então, coloquei o nome de Rildo Lasmar Dentistry & Aesthetics, um nome que eu acho bacana e todo mundo ia entender que era uma coisa diferente. 

Houve uma evolução também na sua reputação, pois ela começou a crescer de forma exponencial. Você começou a trabalhar, ter esse público e trazer técnicas novas. Você conseguiu construir uma reputação dentro da Odontologia que virou uma marca e virou uma referência. Como que se deu isso? 

RL: Quando eu me formei, eu não queria fazer uma coisa que eu não fosse bom. Então, eu sempre corri atrás de cursos. Eu fui estudar porque sabia, que, se você não é implantodontista, como você vai ter a chance de trabalhar com implante? Então, você tem que saber aquela profissão para você ganhar com ela. Você se forma como dentista, que é um clínico geral, e tem o direito de fazer qualquer especialidade da Odontologia. Mas, se você não souber fazer, vai fazer errado. Também não vai ser visto nem lembrado. 

Então, eu comecei a estudar e fazer cursos. O primeiro curso que eu fiz foi Saúde Pública e, depois, fiz Ortodontia, que era uma especialização para desentortar dentes e já tinha um pouco de estética. Fiz mestrado em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Aí, passei a enxergar que estava chegando o implante. Quando eu comecei a fazer Implantodontia, não existia isso de um especialista fazer outra especialidade, porque, geralmente, você tinha uma especialidade só pelo resto da vida. Mas, eu vi que podia fazer as duas especialidades. 

Só que, quando eu comecei a fazer implante, os ortodontistas se sentiram ofendidos, achando que eu estava desprezando essa especialidade, já que Ortodontia era a mais conceituada. E não era com esse intuito que decidi fazer a segunda especialização, e sim porque queria aprender, enxergando que vinha uma especialidade nova e que tinha necessidade de saber fazer as duas. Muitas vezes, o paciente de Ortodontia também precisava do implante e, antes disso, eu precisava encaminhar para outro profissional. 

Eu tinha essa vontade de atender o paciente do meu jeito e cuidar dele. Depois desses cursos, vi que a finalização era na estética. Então, decidi fazer Estética também. Essas especialidades, conhecimentos e cursos fora do Brasil que eu procurava e procuro até hoje, foram me trazendo notoriedade. Além disso, eu fazia algumas parcerias, alguns pacientes me indicavam e isso tudo foi acontecendo de um jeito que, na hora que eu vi, já estava reconhecido. 

Como se deu a parceria com a AM Invest e essa questão de uma nova unidade no Shopping Flamboyant?

RL: O Flamboyant é um crescimento do que tenho hoje no Alphaville, porque ficou pequeno, já que só tem cinco salas de Odontologia e há outras especialidades médicas aqui. O Flamboyant é um shopping bem cuidado, organizado e que tem uma boa qualidade de trabalho, atendimento e localização, sempre em evolução. O shopping me convidou para ir para lá e precisei avaliar por um tempo, porque precisava ter um parceiro maior. Eu já estava com três clínicas e precisava de um grupo que me ajudasse a administrar. Foi quando veio a AM, que é especialista em administração e investimentos, aí unimos a força do trabalho com a força da gestão. Nós fizemos essa parceria bacana que espero que continue sempre. 

Hoje, você olha para a AM e enxerga também uma expansão internacional? O Rildo Lasmar ali da Rua do Lazer e do Urias Magalhães se enxerga abrindo clínicas em outros países? Como você vê esse mercado?

RL: Eu acho que a Odontologia brasileira é a melhor do mundo. Tenho pacientes do Japão, por exemplo, que falam que a Odontologia brasileira é muito diferente, mais prática, mais bem feita, mais cuidadosa e mais humana do que as de outros lugares. Então, tenho o plano de expandir para outros países, não só com o Rildo Lasmar, mas ainda com o Instituto Brasileiro de Odontologia (IBO), que é uma marca brasileira. Quando você tem “brasileiro” no nome, você tem a reputação de uma boa odontologia.

Essa futura expansão deve começar por onde?

RL: Nós patenteamos o nome em 27 países da Europa e nos Estados Unidos, então nós temos a chance de ir para esses países todos. Não tem uma previsão certeira ainda, mas já estamos estudando para Estados Unidos e Portugal.